quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Rio-tensão

"Rio de novo..."
Armando Freitas Filho

Rio de Janeiro, cidade de diferentes graus. De onde observo não vejo o mar, muito menos o movimento uniforme da onda. Me contento com o barulho. Não de água esbravejando na pedra, e sim, o som de automóveis a traçar seus caminhos repetidos, repentinos. É a sonoridade humana, pois a buzina ensurdecedora aos nossos ouvidos sai da pressão de uma mão, estagnada feito pedra no volante, no caminho. E como gosto desse incômodo.
Abro a janela em mais um dia de sol, paisagem de concreto. As vozes no corredor sentenciam pessoas incrédulas na arte do viver. Puro desperdício. Para que tanta balbúrdia? grita uma alma honrosa. Era a arma que tiraria sua razão. A discussão perde o argumento e dá passagem a cena de um cotidiano nebuloso. Traços de luzes iluminam os tiros disparados do escuro. Os gritos de desespero ecoam coniventes ao sangue umedecendo casas feitas do pó. Mais um lar produz um filho sem pai,aos intermináveis sons de sua garganta árida anunciando pedidos de retorno.Do pó ao pó. É o rio de novo produzindo o som que não queria ouvir. Prefiro estar na sinfonia feita pelos carros.