quarta-feira, 21 de maio de 2008

Morte cerebral

Tudo era muito claro...

Depois do silêncio

ruminou palavras ao vento

E pela boca discorreu

ódio com saliva

Mas mal sabia,

que falava pra uma mente morta

Ele já estava em outro lugar

em outro corpo

e ela,

não pensava mais em nada

mesmo depois de tudo estar tão... claro

Imagina(má)vel

Batia o vento em seus cabelos
sobre saltos e veias palpitantes
andava contra o sol
e a cada sorriso
era como um improviso de jazz
atravessou a avenida
e pela pista flutuava(e perpetuava)
deixava ali
uma fenda inestimável
que é silenciosa e coberta
do mais simples
e negro vel
cobrindo os sopros, os desejos,
o halo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Júlia II

Pressentia algo. Era muito silêncio entre nós, mas não sabia o que dizer. Não era o silêncio costumeiro, a falta de diálogo, seja por distração ou tédio, era algo que ainda apareceria mas que nesse momento, não nos permitia discorrê-lo. Valia também a idéia do receio, de não dizer nada por não querer a resposta. Antes de um diagnóstico preciso não havia porque indagações, construções de frases sem qualquer motivação de sentimento. Continuamos a caminhada. Lembrei o quanto aquele velho pai me balançou no colo, de como soube conviver com uma moça em anos de liberdade sexual, experimentos, rebeldia gratuita, complexos narcisistas, tudo que aparentemente indagaria um “chefe da casa” se é que isso ainda existe.
Presente na minha vida, o pai solteiro que me refiro foi mãe, foi além de umas não-permissões e vivenciou o universo feminino comigo, assustamo-nos juntos na primeira menstruação, enraiveceu-se contra o primeiro “s” do meu primeiro namorado, convidou-me inúmeras vezes para um cinema.Perdoou as notas baixas e os dias que não debruçava minha cabeça sobre seu ombro à noite em busca de uma diferente experimentação sobre as noites cariocas.Mas agora vigorava o inquietante silêncio, sem esboços de gestos,sem assobios de La Bamba e não assistia os jornais do 4. Olhava incansavelmente pela varanda do apartamento, e vivia uma relação mais intensa com as plantas. Era câncer. E enquanto caminhávamos podia perceber o afastamento, sua defesa não contra a doença, mas sim a ruptura entre o nosso convívio, um meio sem jeito de não me fazer chorar, de não me fazer arrepender do que não vivemos juntos, e uma forma de dizer que fez de tudo para ser um bom pai, mesmo fazendo tudo sem querer. E sem querer seus olhares já não me encontravam, um super-homem (de brancos cabelos) fragilizado em contar que sua presença não seria pra sempre, e que um dia, darei adeus sem retorno. Continuamos a caminhada até o posto 2.
Vivemos mais dois meses nos abraçando no silêncio. E foi a chave para a resposta, o que permaneceu na saudação final. Uma motivação para se viver e pensar, que, quando chegar minha vez, não direi nada para os meus filhos.