quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Monólogo

Era mais um dia cheio de atividades corriqueiras. Eram mais dois passos, da fila de espera ao cesto humano. Um elevador, o ponto de encontro. Admiro as pessoas que iniciam uma conversa no seu interior, entre suas quatro paredes. Penso que o elevador era para ser algo a mais do que um entra e sai. Ele é melhor do que a casa da gente, pois sempre há alguém diferente do lado de dentro. O pouco espaço aproxima-nos, é puro calor-humano. Impossível não imaginar contato-físico com tantas pessoas estranhas.
Volto aos meus dois passos iniciais, onde me deparo com os olhos virgens desse lar, dona do meu ser ,quem sabe, dos meus seres. Uma mulher feita de perfume, água que se espelha,vertigem do tempo. Sua pele do corpo parecia ter sabor e vestia um tomara-que-cai, e como esperava por isso. Defini-la impossível,apenas digo que era impiedosa na arte do amar.
O ímpeto nunca foi uma de minhas virtudes,era uma dama visualizada que necessitava de algo maior do que o flerte entre os vidros que nos despedaçava, na espera de uma palavra afetuosa. Entalada na garganta, como sangue na saliva, aproximava-se da beira dos lábios adentrando no ar, almejando uma futura troca de sufoco intermináveis.
Precisava de uma palavra-faca, que rasgaria nosso silêncio. Mas o que falar para a bela dama de casto olhar?
_Quinto andar senhora, soa a voz baixa do mais baixo dos seres.
A luz do desandar acendeu, ela partiu. De fato o silêncio foi rasgado, não por mim.
Então permaneço calado, fico assim até o nono.