terça-feira, 28 de agosto de 2007

Molduras

Poderia eu, amante da vaidade, viver sem meu espelho-vivo?
Por altos caminhos pelas ruas da velha Viena, admiro as folhas ao cair identificando o tempo de suas quedas, o meu bel-prazer de vê-las dançar, com uma aparência confiável e depois, caem, a se juntar com folhas secas no mais legítimo outono dos anos frios. Contrário à furtividade, eu as piso e completo meu desejo com farelos como se beleza já não fosse existente. Em maior quantidade, mas não tão belas quanto as rosas são as folhas que esverdeiam o que eu vejo, como se todo o caminho, o verde, as folhas, a praça fossem esquivas do pensamento-mor.
Espelho-vivo, parte da realidade?
Expor minhas idéias com ela entrelaçada na garganta. E é afastando de mim que a vejo, fora de mim, há de longe ela, tal e qual como evitava saber. É uma nova vontade, a de correr para repor os ponteiros desperdiçados. Enquanto corro dando ênfase no tempo o mesmo não me evita e temo que nela o tempo encontre a aproximação e por vez, um fim. E dessa vez piso nas rosas,nas folhas, sem senti-las em seu tempo, vivendo agora o meu, sentir o peso do movimento contrário e sensivelmente ameaçador.
Ressentimentos aparentemente finais que se quebram por tão poucas palavras. As que são distantes não captam a realidade e logo devemos substituí-las pelas de não-ficção, mesmo sendo nos instantes frios, a vaidade em si por se quebrar. Mãos à janela, a janela, era ela, era ela. Enfim, na estação de Westbahnhof, os trilhos já enferrujados não evitam os vagões,as malas não são esquecidas. Espelho-vivo das despedidas, quando agora a afasto de mim tenho as lembranças, penso que por ser esvaziada, não por mim,é isso que faz sentido agora. O espelho-vivo é o tempo em pessoa, e irá conservá-la pela eternidade do outono, onde as folhas, e rosas no verde, caem, de volta ao tempo, onde não me pertence mais, parte necessária da realidade. Preciso de uma margem.