segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Invasão

"nosso amor puro,pulou o muro..."
Chacal

Essa história se passa num banheiro,entre os sons que atravessam as fendas da porta. Pelo não isolamento perfeito,os sons pela parede também. E pela curiosidade,que permite pôr o ouvido e captar cada vez mais.
Potencialmente traída quando se fala sobre vozes. Pareciam que os ouvidos foram feitos para essa música. Eles pareciam querer impressionar uma platéia,com jogo de vozes quase que em sincronia,embutidos no barulho da cama,martelava no cérebro. O barulho da cama não me fazia bem,nunca fez. Ela gritava,ecoava como fósforo em brasa preparado para incendiar um lar,mas o que incomodava era o barulho da cama. E como se a vida fizesse de propósito,uma mulher gozando de uma vida que não é dela.
Passos vem em minha direção,mas não a tempo de me espiarem,pois sutilmente corro para o closet. É de onde a escuto bem perto,não cheirava suave como rosas,e sim como mulher decidida e cantava com uma voz nasalizada numa cerimônia de confissão a uma pessoa imóvel e calada,enquanto ele tocava meu piano depois de dar umazinha (sempre fazia isso). Todos os seus pecados cantados para penetrar e dilacerar a alma. A sincronia continua. Ela sai,ele entra,jogando conversa fora ao falar com ele mesmo e mais ninguém,pensando como é arriscado a vida a três. Tolice,não viveriam muito tempo juntos, embora ela quisesse voltar,ao deixar o shampoo aberto,fios de cabelo na escova. Ela usou seu perfume,ele detesta perfume masculino em mulheres. Se soubesse,não a teria pago. Bem feito.