quarta-feira, 19 de março de 2008

Prosa para Clarice

“o grande problema é o tempo que teima em passar”


Quando o tempo passar sobre nós, abrir o já desconexo, remexer o desconhecido que há por dentro, transformaremo-nos em palavras ao vento. Por mais cedo que seja será tarde, tarde pra recomeçar algo que jamais acabou, sem ter o luxo dos finais felizes ou mesmo um grande final. Tudo assim será, assim como não era pra ser, enfim, o tempo passar, pois ele não deveria ousar em se mexer, mudar o que está bom, estacionar o verbo no presente sem ligá-lo a nada. Enquanto estiver distraída, o tempo passará, antes do desencontro, antes da ligação não-feita, do amor não-atendido, simplesmente passará, entre o breve limiar dos ponteiros, entre a viagem da carta não respondida. Eu vou, eu ando, eu teimo, eu amo.