Virgínia Woolf
Belo (se tem beleza pra extrair).Efeito que não poderia ser repetido nem em Hollywood.Logo após o abalável estalo,não pelo barulho em si, mas pelo contato das peles é que traz um intrépido silêncio entre os dois,onde fogem as palavras depois da ação desmedida Um tapa na cara.Escalaremos o amor e definiremos o fato por se encerrar,poderia ser com uma cuspida,porém é atitude arrogante,não se cospe no chão por educação,muito menos na face alheia.Já a face é dada à tapa,todo mundo a expõe mas ninguém espera uma resposta em forma de dedos.O olhar no espelho é a vista de cima,o rosto inchado (a aliança marcando-o com uma saliência),é o amor,e também o pensar que não é tão bom assim.Já que escalar não surte efeito,ficaremos embaixo mesmo,todos sabemos que um tapa pode derrubar,quanto mais próximo do chão melhor.Roy pega as chaves do carro em cima da mesa,sai rasgando as portas,da sala,elevador,dos jardins,bufando de ódio,é porque ainda sente amor.Maîte chora.Sabe que foi uma ação destemperada,a ira,com mulher traída não se brinca.Queria pedir desculpas,correr atrás e agarrá-lo pela camisa,acalmá-lo com a mesma mão ardente,mas na hora não pensou em nada,e por isso,chora.Foi depois da décima gota de lágrimas de arrependimento é que pôde acreditar,ele voltaria.Lembrara que ele sempre voltava arranhado por alguma vadia,por brigas em boates,em reuniões de condomínio,ele sempre voltava.Porque não após um golpe que incharia metade da face?Fora a honra,era só uma coração no rosto.E se ficasse alguma marca,um corte,um roxo qualquer?E foi assim que dormiu em meio às preocupações.É a melhor forma de dormir,despretensiosamente.Acordou com um telefonema.Roy ainda bufava,dissera inúmeras merdas,sempre como bom machão que bancava,falara que jamais havia apanhado de mulher,nem de sua mãe e pedira para a sonolenta e assustada moça arrumar suas malas.Ela não aceitou,se fosse pra ir embora,ele mesmo escolhesse o que levar.Foi um tapa irreversível.Mas se ele bancava o machão,ela sempre sonhava em ser heroína,aquela da novela,e em poucos minutos,o que sonhava seria realidade.Tinha medo da reação,não era assim que imaginava,não até a noite anterior.Sempre teve vida de patricinha-zona sul até seus pais morrerem,mesmo assim não passou dificuldade alguma,pois se casou com um playboyzinho metido a besta,que figuraria na porta a qualquer momento.Era uma vida de incertezas,para se sentir segura,pegou uma arma em cima do armário.E foi uma espécie de conforto,não teria para quem ligar,não teria um abraço amante,um cachorro carente.Ele abriu a porta.Belo (se tem ar da graça entre o espaço dos corpos).A etapa de escalar se pôs a descer,figurar entre a parte baixa da terra,entre as paredes de madeira,e ver que debaixo também não parecia ser bom,percebeu enfim que o bom é estar com os dois pólos ao redor e poder amar e matar intensamente seus amores,ziguezaguear quando for alto-amor, oscilar no baixo-fim,enfim, o bom é estar no meio.